Um exercício de ubiquidade, esta impertinente ausência

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Longe de serem escritores, fundadores de uma lugar próprio, herdeiros dos servos de antigamente mas agora trabalhadores no solo da linguagem, cavadores de poços e construtores de casas, os leitores são viajantes; circulam nas terras alheias, nômades caçando por conta própria através dos campos que não escreveram, arrebatando os bens do Egito para usufruí-los. A escritura acumula, estoca, resiste ao tempo pelo estabelecimento de um lugar e multiplica sua produção pelo expansionismo da reprodução. A leitura não tem garantias contra o desgaste do tempo (a gente se esquece e esquece), ela não conserva ou conserva mal sua posse, e cada um dos lugares por onde passa é repetição do paraíso perdido.

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Michel de Certeau, em A invenção do cotidiano [Rio de Janeiro: Vozes, 1994, p. 269/270].

 

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