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O que está acontecendo no Brasil?

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A Coordenadoria de Cultura (CCult) da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx) da UFSCar está realizando neste semestre edição especial do Fórum de Debates

 “O que está acontecendo no Brasil?”

Captura de Tela 2016-05-13 às 16.07.57

Os encontros que já aconteceram:

em 23 de mar de 2016
Gabriel Feltran, professor de sociologia da UFSCar, debate com a comunidade universitária a conjuntura política brasileiral. É o primeiro encontro do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil? – que teve lugar em São Carlos, na noite de 22 de março de 2016. Mediação: Wilson Alves-Bezerra.

 

30 de mar de 2016
2a edição do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil?
Democracia, desenvolvimento e inclusão – o legado da Constituição de 1988 em disputa. Debate com Vera Cepêda (UFSCar). São Carlos, 29 de março de 2016. Mediação: Wilson Alves-Bezerra.

 

7 de abr de 2016
3a edição do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil?
– Crise econômica e limites da democracia no Brasil. Debate com Joelson Carvalho (UFSCar). São Carlos, 5 de abril de 2016. Mediação: Wilson Alves-Bezerra.

 

14 de abr de 2016
4a edição do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil?
– Estado Penal, polícia, política no Brasil Contemporâneo . Debate com Jacqueline Sinhoretto (UFSCar). São Carlos, 12 de abril de 2016. Mediação: Wilson Alves-Bezerra.

 

em 27 de abr de 2016
5a edição do Fórum de Debates da UFSCar, série O que está acontecendo no Brasil? – com o jornalista Luiz Carlos Azenha. Debatedor: Wilson Alves-Bezerra.

 

5 de mai de 2016
Na 6a edição do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil? – o filósofo Wolfgang Leo Maar discute democracia, luta de classes e a conjuntura política atual. Mediação: Wilson Alves-Bezerra.

 

12 de mai de 2016
O jornalista e professor da ECA Eugenio Bucci fala sobre a grande imprensa brasileira, da qual é parte; analisa o papel da mídia na cobertura do impeachment de Fernando Collor de Mello e de Dilma Rousseff. Mediação: Oswaldo Truzzi.

 

13 de mai de 2016
A psicanalista Maria Rita Kehl no Fórum de Debates da UFSCar, em memorável palestra sobre cidadania, história e cultura brasileira. O evento foi parte do Fórum de Debates – O que está acontecendo no Brasil? e da XIII Feira do Livro da UFSCar. Mediação: Oswaldo Truzzi.

 

Secretaria de Cultura UFSCar
Coordenadoria de Cultura da UFSCar

Aos jovens, estes que vêm vindo!

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Nós vamos cuspir na sua cara

Um tempo onde a diversidade seja não apenas reconhecida e respeitada, mas sim valorizada como nossa maior riqueza. Um tempo onde aceleremos a necessária redução não só das desigualdades, mas também do lixo, das emissões de carbono, da poluição ambiental. É neste contexto que precisamos olhar a crise brasileira, para que a baixaria dos ratos da cleptocracia tradicional não reduza nosso horizonte utópico. Não seria justo com o Brasil.

Ilustração: Sophia Emekay

Ilustração: Sophia Emekay

Não é justo com nossa geração. Não é justo com os desafios de nosso tempo. A luta, efetivamente, está só começando e se dá todo dia.

Não se trata apenas de se curvar ou não ao golpe baixo de Cunha. Trata-se de que outro horizonte se abra sobre nós para os fazimentos políticos, para as invenções coletivas, para as batalhas reais que o século XXI está a nos exigir: as mudanças de comportamento e visão de mundo; a reestruturação da economia a partir de suas dinâmicas vivas, colaborativas e não-competitivivas; a ocupação de todos os espaços de poder político pela mais ampla representatividade inclusiva na qual mulheres, negros, LGBT’s, indígenas e pobres possamos sair do ‘apartheid político’ no qual estamos confinados e que nos exclui da arena das decisões públicas.

Durante uma longa sessão de tortura coletiva, o Brasil conheceu sua Câmara Federal, aquilo que muitos países chamam de câmara baixa, não pelas ‘baixarias’ que vimos no domingo, mas por ser a base da pirâmide representativa em escala nacional. Somos mais de 200 milhões de brasileiros. É natural, portanto, que a Câmara seja grande. São 513 deputados federais. Quantos indígenas? Quantos negros? Quantas mulheres? Um só gay orgulhoso.

Ofendido e humilhado sistematicamente dentro da própria Câmara, com seu cuspe na cara imunda do fascismo, Jean Wyllys representa um basta que todos nós dizemos coletivamente: um não à covardia, ao preconceito e à morte! Os que atacaram Jean Wyllys dentro do plenário são os mesmos que matam diariamente negros na periferia, LGBT’s no asfalto e mulheres dentro de suas próprias casas apesar do louvor público à família. Nunca fomos pacíficos nem muito menos cordiais. No Brasil, a culpa é sempre da vítima o que por si só é uma desumana injustiça! É isto que estamos assistindo novamente. Tão somente isto: a culpa recai sobre a vítima. O Brasil é um lugar que ser daqui dói e nós conhecemos esta dor.

Ao afirmar que #SomosTodosJeanWyllys cuspimos nós também na cara da hipocrisia, da violência, do genocídio e da dor cotidiana banalizados e naturalizados por aqueles que tem assegurado seu lugar de fala. Na tribuna da Câmara, na mídia, na academia e no mercado estamos há mais de 500 anos escutando os mesmos. São a voz remodulada do Senhor de Escravo, sua moral abjeta, sua corrupção na alma, sua desumanidade, seu desamor. À elite político-midiática do país e os imbecis da internet que estão escandalizados com o cuspe de Jean devemos advertir que Jean Wyllys somos muitos e que vai faltar saliva. Nós vamos sacudir este país e vamos cuspir na cara do mal que insiste em sambar na cara do Brasil e fazer sangrar nossos corpos. Somos todos Jean Wyllys contra o horror que precisa ser definitivamente deixado pra trás como condição de futuro comum. Somos todos Jean Wyllys porque temos uns aos outros e já sabemos de nosso imenso poder. Somos todos Jean Wyllys porque aqui neste país nós ousaremos viver sem dor. Juntos podemos!

A política e os poetas

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O rumo tendencioso e partidário que as investigações da operação Lava Jato tomou, causou indignação em vários setores da sociedade, inclusive o da Cultura, que entende a ilegalidade do projeto de impeachment por não apresentar evidências de crime de responsabilidade por parte da presidenta Dilma. Samba, teatro, cinema, circo, poesia, dança e música vêm se unindo constantemente em diferentes atos em defesa dos princípios democráticos da Constituição Federal deste país.

Aqui: o vídeo.

o trabalho, o trabalhador

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Somos netos do trabalho e da escola, não da riqueza

1 de maio de 2015 | 12:24

Autor: Fernando Brito

Captura de Tela 2015-05-02 às 10.26.40O cidadão à direita na foto é meu avô, José Nogueira de Oliveira Sobrinho.

A foto é de 1929. Ele, de 1910.

Achada nos guardados de minha mãe, depois de sua morte, provocou uma cena interessante.

Meu filho de dez anos, nascido quase duas décadas depois de sua morte, chorou diante da descoberta de que “ele era pobre”.

E era, mesmo, pintor de paredes, como se vê nas roupas velhas, pintalgadas, e no chapéu improvisado com que evitava – nem todos – os pingos de tinta nos cabelos.

Mas era algo que o orgulhava, muito mais do que pudesse envergonha-lhe a pobreza.

Tanto que a foto, no verso, com a grafia trêmula dos mal-letrados, era dedicada a sua “queridinha Innocência, como prova de sincera amizade”, que viraria casamento no ano seguinte.

Minha faxineira, que estava comigo quando revirei as caixas e achei a foto, trouxe da filha – jovem adulta e já mãe – reação semelhante à do Pedrinho.

“Fernando, minha filha não acreditou que alguém mandasse uma foto para a namorada assim, vestido de farrapo e mostrando que era pintor de parede.”

É, uma foto mostrando que era pobre.

Ou, quem sabe, para a jovem moça do interior, mostrando que era trabalhador?

Os anos seguintes mostrariam o que ele – e ela, que se tornaria também trabalhadora – podiam alcançar com isso.

A chegada ao Rio, de segunda classe de trem, sem uma muda de roupa, porque na viagem roubaram seus poucos baús de papelão.

Com a ajuda do Sebastião, o Compadre, ao seu lado aí na foto, conseguiu se instalar na “capital”.

A casa de cômodos terrível, em Botafogo, depois uma melhorzinha, na Penha e, afinal, o conjunto do Iapi, moradia decente e boa.

A pobreza, agora convertida em vida modesta, nunca lhe foi uma vergonha, com apenas uma reserva pequena de mágoa pelo apelido de “Zé Galinha”, ainda quando vivia no interior e andava com as ditas cujas penduradas pelos pé numa vara, a vender pelo vilarejo de Conservatória.

Ao contrário: o trem da madrugada, as pilhas de costura feitas a pedal na velha Singer – que depois ganhou um motorzinho, que maravilha- por minha avó para a Casa Boneca, loja boa da Rua Voluntários da Pátria, o aprendizado dele, a melhorar a arte, sabendo fazer decapê, ouro velho, asa de barata e tantas pequenas artes da pintura, tudo isso nos era contado com orgulho e, no final, com saudades.

Nada, porém, se comparava à felicidade de ter formado a filha professora.

Na mesa de domingo, esticada com tábuas e parentes, o elogio que se fazia a alguém cujo nome vinha à conversa, era “ah, conheço, é trabalhador”.

Não era “é esperto”, “é safo”, “tá bem de vida”, “tá podendo”.

A pobreza passada e a modéstia então presente nunca foram um problema, como também não viam o pouco (para eles, grande) progresso como virtude individual excepcional.

Havia milhares de outros assim, nas travessas que se espalhavam pelo Iapi, estreitas de só passar um carro, contrastando com as ruas principais do conjunto, largas e ajardinadas , hoje devoradas pelos “puxados”.

O trabalho e a educação eram valores presentes ali, com cada geração indo melhor em ambos mas, nem por isso, desprezando os que lhe foram degraus.

Não, a vida não era perfeita e sempre tinha alguém no descaminho.

Mas a regra era outra e até o “tio” oficial do Exército havia sido menino cavalariço, a quem a farda permitiu estudar.

Nos víamos, orgulhosamente, como uma continuidade, o desdobrar de um processo de progresso que era coletivo desde a família até a rua, o bairro, a cidade, o país.

Um caminho em que o esforço não era sacrifício.

Onde o trabalho, mesmo modesto, não era uma danação.

Onde aprender – tudo, na escola, nos livros, no jeito de empunhar o martelo pela ponta do cabo ou consertar os “fios de ferro” feitos de pano e viviam arrebentando – não era inútil, nunca.

Duas gerações, desde aquela foto, chegaram à universidade e ao trabalho intelectual.

Somos os netos do trabalho e da educação.

Mas estas modestas virtudes, por obra dos donos do mundo, foram deixadas para trás.

Viramos “consumidores”, em lugar de cidadãos.

Meu pobre avô, com suas roupas respingadas de tinta e o salário mínimo, não pode ser visto com um homem feliz.

Mas era, e eu sou feliz e grato por ele.

vaia aos vips

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Carta de Augusto de Campos à Folha de S.Paulo.

“Prezados Senhores.

Esse jornal utilizou, em 14 de junho de 2014, com grande destaque, o poema VIVA VAIA, de minha autoria, como ilustração de matéria ambígua sobre os insultos recebidos pela presidente Dilma, na partida inicial da seleção.

Utilizou-o, sem minha autorização e sem pagar direitos autorais: sem me dar a mínima satisfação.

Poupo-me de comentar a insólita atitude da FOLHA , a quem eu poderia processar, se quisesse, pelo uso indevido de texto de minha autoria.

A matéria publicada, composta de três artigos e do meu poema, cercado de legendas sensacionalistas, deixa dúvidas sobre a validade dos xingamentos da torcida, ainda que majoritariamente os condene, e por tabela me envolve nessa forjada querela.

A brutalidade da conduta de alguns torcedores, que configura até crime de injúria, mereceria pronta e incisiva condenação e não dubitativa cobertura, abonada por um poema meu publicado fora de contexto.

Os xingamentos, procedentes da área vip, onde se situa gente abastada e conservadora, evidenciam apenas o boçalidade e a truculência que é o reverso da medalha do nosso futebol, assim como a inferioridade civilizatória do brasileiro em relação aos outros povos.

Escreveu, certa vez, Fernando Pessoa: “a estupidez achou sempre o que quis». Como se viu, até os candidatos de oposição tiveram a desfaçatez de se rejubilarem com os palavrões espúrios. Pois eu lhes digo. VIVA DILMA. VAIA AOS VIPS.”

Augusto de Campos.

Do blog Maria Frô

Paulo Leminski

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eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro

ou está por fora

***

quem está por fora

não segura

um olhar que demora

***

de dentro do meu centro

este poema me olha

*

In: Toda Poesia. São Paulo: Cia das Letras, p. 35.

Orlando

Imagem

para  Virginia Woolf

por Luma Kaz

Foi-se em mim

mesma

o que se vai

de si

daí

desse seu ser

meio

estranho.

Ficou uma fresta

uma fenda

uma lenda de amor

essas tolices

que ficam

quando

não há

quê ficar.

Eu nem ligo

nem

nada

sigo

feito boba

a tola que sou

e, afinal,

um sinal dos céus.

Largar mão

passar mão

passar mal

afogar

reaver

recobrar o ar

perdido

ferindo tanto quanto…

Veio-se.

Foi-se.

Que outra coisa

há na vida?

Ítaca

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 de Konstantinos Kaváfis

Se partires um dia rumo a Ítaca,

faz votos de que o caminho seja longo,

repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem os Lestrigões, nem os Ciclopes

nem o Posídon te intimidem;

eles no teu caminho jamais encontrarás

se altivo for teu pensamento, se sutil

emoção teu corpo e teu espírito tocar.

Nem Lestrigões nem Ciclopes

nem o bravio Posídon hás de ver,

se tu mesmo não os levares dentro da alma,

se tua alma não os puser diante de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

nas quais, com que prazer, com que alegria,

tu hás de entrar pela primeira vez um porto

para correr as lojas dos fenícios

e belas mercadorias adquirir:

madrepérolas, corais, âmbares, ébanos

e perfumes sensuais de toda espécie,

quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrina

para aprender, para aprender dos outros.

Tem todo tempo Ítaca na mente.

Estás predestinado a ali chegar.

Mas não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

e fundeares na ilha velho enfim,

rico de quanto ganhaste no caminho,

sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,

e agora sabes o que significam Ítacas.