LITERATURA E TEMPO PRESENTE (CNPq/DL -UFSCar)
Este Grupo de Pesquisa congrega e fomenta reflexões acerca da expressão literária contemporânea, procurando problematizar sua periodização – inclusive no que diz respeito às delimitações do que se entende por “contemporâneo” –, suas categorias, seus espaços de circulação e de inscrição, suas opções formais e seus recortes temáticos. Pretende-se, então, que pesquisas e pesquisadores ligados ao Grupo construam uma abordagem da literatura que a compreenda como parte de uma rede cultural da qual fazem parte outros objetos, práticas e linguagens, artísticas ou não, de modo que se possa enfrentar a complexidade do que se compreende – ou do que se virá a compreender – como literatura no tempo presente.
***
COMUNICA – reflexões linguísticas sobre comunicação (CNPq/DL-UFSCar)
- O grupo de linguistas se reúne em torno de textos que pautam reflexões sobre a comunicação no mundo contemporâneo. Não necessariamente textos de comunicação, não exatamente teorias de um campo específico. A amplitude desse território parece pertinente na medida em que, estribado nas questões fundamentais da linguística, permite tratar fenômenos de língua e linguagem na sua relação com elementos extralinguísticos, investigando práticas novas, retomando conhecimentos fundadores, abordando problemáticas que se põem como cruciais não só aos pesquisadores e profissionais da linguagem, como a qualquer cidadão que assuma sua condição de partícipe na construção social e política das comunidades em que vive, isto é, sua condição irredutível de interlocutor.
- Ligado ao grupo de estudos Comunica.
***
EPPE – Escritas profissionais e processos de edição (CNPq/CEFET-MG)
projeto: Paratopia criadora e tratamento editorial de textos
Embora o mundo da hipermídia venha modificando práticas de toda ordem e, sobretudo no que tange às chamadas mídias sociais, venha provocando uma verdadeira explosão de paradigmas herdados de longa data, como é o caso de valores e entendimentos relativos à autoria e à leitura, ainda são bastante frequentes trabalhos analíticos que operam com uma noção de autor apartada da de leitor, encerrada numa suposta homogeneidade sagrada, que vê a criação como um processo plenamente individual e de desligamento do comum, do mundano, dos mortais enfim… ou trabalhos que operam com uma noção de texto e de discurso que excluem completamente de suas análises a condição humana do autor, possivelmente temendo produzir biografias psicologizantes ou historiografias mecânicas, como frequentemente aconteceu noutros tempos. Em todo caso, os materiais linguísticos se produzem, aos montes, multiplicados, desdobrados, renovados, transformados conforme as características deste período, a que o geógrafo Milton Santos ([2000] 2009) chamou técnico-científico informacional, referindo, entre outras coisas, as novas relações espaciotemporais que as tecnologias da informação e da comunicação animam.
E esses tantos materiais linguísticos em circulação têm autores, como têm leitores, e só assim, nessa interlocução fundamental, é que se realizam materialmente, como parte incondicional do mundo humano – pelo menos se olhados da perspectiva discursiva que assumo aqui. Em linhas gerais, trata-se de considerar a língua como constitutivamente opaca e polissêmica, os sujeitos como clivados, e as conjunturas de interlocução marcadas por lugares sociais definidos na sobreposição de temporalidades de que se faz a história.
Essa análise do discurso vê nos textos, ou melhor, nas práticas de textualização, as marcas da heterogeneidade e da alteridade constitutivas de todos os dizeres; vê, assim, a relação ininterrupta entre intradiscurso e interdiscurso. Nessa tradição, que a esta altura vive desdobramentos diversos e debates teóricos acirrados, é comum se falar em fios de discurso para referir as sequências discursivas inteligíveis nos textos. É que, segundo essa orientação teórica, todo discurso se lineariza em textos, e todo texto é uma trama urdida por elementos muito variados.
Nesta oportunidade, para abordar a relação entre autoria e leitura, frequentemente vista como uma dicotomia, mobilizarei o conceito de paratopia proposto por Dominique Maingueneau, e o fio que puxo é uma referência ao trabalho genericamente chamado de revisão de textos, uma breve passagem da página de agradecimentos de um livro de Bruno Latour, renomado filósofo estudioso das ciências, que tem publicado diversos tipos de texto nestes últimos vinte anos e está bastante familiarizado com as práticas de preparo de um texto destinado a circular socialmente. Diz ele, a certa altura de sua página e meia de abertura do livro A esperança de Pandora ([1999] 2000):
“Tantas pessoas leram rascunhos de partes do livro que já nem sei bem o que pertence a elas e a mim. Como sempre, Michel Callon e Isabelle Stangers deram orientação essencial. Por trás da máscara de árbitro anônimo, Mario Biagioli foi decisivo para a forma final da obra. Durante mais de dez anos, beneficiei-me da generosidade de Lindsay Waters como editora – e mais uma vez ela ofereceu abrigo para meu trabalho. Minha maior gratidão, contudo, é para com John Tresch, que burilou o estilo e a lógica do manuscrito. Caso os leitores não fiquem satisfeitos com o resultado, queiram imaginar a selva emaranhada pela qual John conseguiu abrir caminho!”
Retenho daí duas imagens: a da selva emaranhada e a do abrir caminhos.
***
FEsTA – Centro de Pesquisa Fórmulas e estereótipos: teoria e análise (IEL/Unicamp) 2008/2015
projeto: Ciberespaço, circulação e rumor público: fluxos de texto no período técnico-científico informacional
Assumindo o ciberespaço como tema de pesquisa, notadamente os aspectos relativos à circulação dos materiais discursivos que o constituem, temos caminhado da análise do discurso de tradição francesa na direção de estudos da comunicação social e da geografia crítica. Esse percurso está fortemente assentado numa análise do discurso de base enunciativa, que toma o material linguístico como objeto fundamental e, dentre outras propostas, se ocupa de pensar o rumor público (Maingueneau, 1984). Para tanto, considera a comunicação como um conjunto de saberes e habilidades relativos à antecipação de práticas de retomada, de transformação e de reformulação de enunciados (Krieg-Planque, 2010).
Desde 2003, temos nos dedicado a estudar as dinâmicas discursivas do mercado editorial, entendendo-o como um ambiente de trocas constituído por institucionalidades mais ou menos estáveis, em permanente discursivização. Autor e leitor têm sido, assim, considerados pontos nodais de uma rede ampla de práticas e técnicas definidoras de posições-sujeito institucionalizadas historicamente, portanto afetadas pela dinâmica social de valores e crenças em torno das publicações. A produção e a circulação dos materiais editoriais, cada vez mais contundentemente implicadas na produção dos sentidos, têm sido estudadas à luz de tópicos de editoração mas também, e sobretudo, à luz da mobilidade proliferante que caracteriza a contemporaneidade (Coelho, 2010), verificável nos fluxos constitutivos do ciberespaço: basicamente massas de texto encurtadas ou feitas de links para outros textos; chamadas; notas; sinopses; títulos, subtítulos, olhos e outros destaques (como animações); palavras-chave; fórmulas discursivas e toda sorte de chavões e estereótipos, multiplicados, derivados, mixados…
Trata-se de pensar nas formas atuais de produção e circulação dos textos entendendo-os como linearizações de discursos, conforme a tradição teórica, mas também como objetos técnicos crescentemente multimodais e móveis. Cremos que isso diz respeito não só aos meios e materiais em que se inscrevem os textos, em seus percursos de difusão social materialmente tangível, mas também à produção de sentidos numa materialidade de outra ordem: a do discurso, que pressupõe dinâmicas sistêmicas entre polos de produção e de recepção, lugares discursivamente definidos, isto é, condicionados e condicionantes.
Essa mobilidade proliferante passa a ser, então, um pressuposto com o qual nos aproximamos da definição de meio técnico-científico informacional, caracterizado por uma imprescindibilidade do discurso constitutiva das formações socioespaciais (Santos, 2000): organizações de sistemas de objetos (resultantes de técnicas e geradores de novas demandas) e sistemas de ações (apropriações de técnicas geradoras de objetos, com suas novas demandas), os quais, implicados sempre, instituem os fluxos (de texto, inclusive) típicos de uma dada sociedade, de um dado modo de viver.
Trata-se, enfim, de estudar aquilo que Santos denomina tecnoesfera em sua relação inextricável com a psicoesfera, resultante da organização das redes que formam a primeira (as técnicas e suas apropriações; os objetos técnicos com suas demandas), que também recai sobre elas (como crença, racionalidade, valor, ideologia). Para tanto, investigamos, na atual divisão do trabalho intelectual, práticas produtoras de objetos técnicos e por eles produzidas. Mais propriamente, interessa-nos, neste momento da pesquisa, entender os fluxos de texto cujas dinâmicas tecem redes de sociabilidade, instituindo comunidades discursivas.
***
IMC – Instituto Mattoso Camara de Estudos Interdisciplinares de Linguagem (DL/UFSCar) 2011-2012
projeto: Linha de pesquia 4
“Contribuições do geógrafo Milton Santos para a compreensão dos fluxos de texto do ciberespaço” estuda a constituição material dos fluxos textuais característicos do período técnico-científico informacional. Considerando a hipermídia como conjunto de técnicas e o ciberespaço como conjunto de práticas que se apropriam dessas técnicas, busca-se compreender os elementos da globalização que, para Santos, fundam-se numa “imprescindibilidade do discurso”.
Desse modo, entendemos que o ciberespaço é uma materialização expressiva do período: esses fluxos de texto produzem uma psicosfera (crenças, ideologias e paixões) diretamente ligada a uma tecnosfera; trata-se das relações entre o domínio da racionalidade e odomínio do vivido. A partir dessas relações, vemos os textos como objetos técnicos produzidos pelo engenho humano e produtores desse engenho, assentados, portanto, num paradoxo constitutivo erigido por dispositivos comunicacionais e noções de cultura que se organizam para além dos documentos oficiais e regulações específicas.
Demais linhas de pesquisa do IMC
Linha de pesquisa 1: Arquivos de Mattoso Câmara
responsável: Prof. Dr. Roberto Leiser Baronas (DL-PPGL-UFSCar/CNPq)
Linha de pesquisa 2: A cara do Brasil no terceiro milênio: uma análise semiótica do cinema brasileiro
responsável: Profa. Dra. Mônica Baltazar Diniz Signori (DL-PPGL-UFSCa)
Linha de pesquisa 3: Sentido, referência e significação: procedimentos denominativos e designativos
responsável: Prof. Dr. Dirceu Cleber Conde (DL-UFSCar)
***
LEEDIM – Laboratório de Estudos Epistemológicos e de Discursividades Multimodais (CNPq/DL-UFSCar) – 2010/2013
particpação: Estudos sobre autoria, paratopia e ethos discursivo como formas de gestão do interdiscurso
Partindo de uma reflexão sobre o que vem sendo referido no Brasil como estudos discursivos, tratamos de uma noção recentemente proposta por Dominique Maingueneau: paratopia criadora, em suas relacões com o ethos discursivo. Em franco processo de formulação, justamente por estar ligada às discussões sobre autoria – efervescentes neste momento – e, assim, aos debates sobre o estatuto do sujeito na linguagem, a noção de paratopia supõe um “impossível lugar” que se constitui na trama interdiscursiva.
Será interessante, então, determo-nos na noção de interdiscurso ou, mais além, na observação de certos modos de gestão da interdiscursividade. Para tanto, serão convocadas noções como a de gênero discursivo e a de interlíngua, com as quais podemos delimitar os nós que, nessa trama, configuram os quadros cênicos e, neles, as cenografias que firmam identidades autorais. O exame de alguns textos que passaram por processos editoriais parece particularmente proveitoso para o entendimento do que está em jogo em tais composições cenográficas.