Não querida, não é preciso correr assim do que vivemos.

O espaço arde. O perigo de viver.

 

Não, esta palavra.

O encarcerado só sabe que não vai morrer.

Pinta as paredes da cela.

Deixa rastros possíveis, naquele curto espaço.

E se entala.

Estalam as tábuas do chão, o piso rompe, e todo sinal é uma profecia.

Ou um acaso de que se escapa incólume, a cada minuto.

Este é meu testemunho.

 

Acabo de fazer uma grande descoberta. Se olho fixamente para um objeto qualquer durante algum tempo, esse objeto não se move. Pelo contrário fica exatamente na mesma posição que antes. Este fato me levou a algumas considerações extraordinárias. Estou convencida de que se trata de um processo nunca antes pensado pelo ser humano. Preciso de tempo para desenvolver minhas pesquisas. Talvez ainda haja tempo depois que sair deste C.T.I. infame onde estou obrigada a viver.

 

Ana Cristina César

em Inéditos e dispersos

 

 

conto Faço votos, de Luma Caz, janeiro

fala na formatura, janeiro

crônica “Não sou escravo de nenhum senhor”, fevereiro

crônica “Antes das apropriações indébitas”, março

crônica “Uma professora nos anos 1990, uma trabalhadora nos anos 1990”, junho

crônica: “O Julgamento de Sócrates”, monólogo com Tonico Pereira, agosto